Depois de FOR A FEW DOLLARS MORE (1966) e THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY (1967), não restavam muitas dúvidas
de que Lee Van Cleef seria uma das estrelas iconográficas do ciclo de spaghetti
westerns. Nos filmes de Leone, o cachimbo e o coldre cruzado sobre o estômago
permitiram-lhe consolidar uma imagem de marca tão reconhecível como o poncho e
o charuto do seu colega Clint Eastwood; essa mesma imagem é transportada para
este contido LA RESA DEI CONTI
(1967) de Sergio Sollima. Contido porque Sollima dispensa o denso simbolismo
católico predominante em muitos dos filmes do ciclo – veja-se, por exemplo, DJANGO (1966) ou SI SEI VIVO, SPARA (1967) – simbolismo que permite as mais das
vezes o excesso de um rococó visual pós-moderno, bem como as personagens
extravagantes, quase caricaturais, para se centrar numa narrativa de fundo
meramente político e social.
E se, por isso, o filme perde
algo da estética visual criada por Leone e levada ao extremo por Sergio
Corbucci, ganha muito em densidade de caracterização, sobretudo na evolução da
personagem de Van Cleef, um caçador de recompensas com ambições políticas que
aceita partir à caça de um fugitivo Mexicano, às ordens do seu patrono – um
Barão das Linhas Férreas – como se num acto meramente desportivo. Mas a
perseguição que se pretendia célere transforma-se numa viagem de transformação
pessoal à medida que os recursos de sobrevivência de ‘Cuchillo’ Sanchez
(soberbamente interpretado por Tomas Milllian) o arrastam para lá da fronteira
do México (privando-o da protecção que a estrela de delegado do xerife lhe
conferia), e para o seio de uma sórdida intriga política de violação e
corrupção que apenas pode terminar no sangrento confronto final.
Millian ganhou também neste filme o estatuto de
estrela do spaghetti western, e a sua relação com o determinado mas cada vez
mais reticente Van Cleef, não fica aquém daqueloutra entre o Blondi de Eastwood
e o Tuco de Eli Wallach em THE GOOD, THE
BAD AND THE UGLY. Relação que atinge o seu pico quando Cuchillo acusa Van
Cleef de ter aceite a missão de o caçar sem sequer ter pedido qualquer prova de
que a acusação que sobre ele recai (de ter violado e morto uma rapariga menor
de idade), acreditando na sua culpabilidade apenas porque ele é Mexicano e pobre
(e que os verdadeiros culpados pretendem eliminar por ter testemunhado o crime
de que é acusado). Tomás Millian, que ao que consta baseou a sua interpretação
no papel de Toshirô Mifune em YOJIMBO
(1961), foi tão bem sucedido no desempenho da sua personagem que ‘Cuchillo’
Sanchez regressaria como personagem principal do seu próprio filme, o clássico
de culto CORRI UOMO CORRI (1968).
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